Mas, não podendo o mundo ser mudado nisto, João Mau-Tempo, enquanto se habilitava em trabalho, ia namorando por aqueles lugares em redor, bailaricando onde ouvisse som de harmónia, e bom bailador que era, disputado pelas raparigas, quem havia de dizer. Tinha, como sabemos, olhos azuis, herdados do seu quadricentenário avô, que ali bem perto, sobre uns fetos antepassados destes, forçara a rapariga que fora só por água à fonte, à vista de pássaros de plumagem que não variou, olhando lá de cima os dois a debater-se na verdura, quantas vezes já foi contemplado pelas aéreas criaturas desde do princípio do mundo. E esses olhos buliam nas entranhas destas raparigas de agora, de repente derretidas numa volta do baile, quando a João Mau-Tempo se lhe escurecia a mirada, nem ele dava por que ao lume do olhar era a antiga sanha amorosa que subia, tão grande é a força escondida das acções passadas. Coisas da juventude. Em verdade, João Mau-Tempo namoriscava muito, mas aventurava pouco. E tudo se ficava pelos gestos, em dia de três copos um apalpão mais atrevido, ou um beijo desajeitado a que faltava ainda toda a ciência que o século ia então acumulando para futuro uso geral.
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Os livros que ninguém quis dar a ler
Pedaços de mim - Eugénia Tabosa