Baixaram-se as cabeças dos irmãos, uma saudade recordou o triste passamento do progenitor, depois Jesus fez voltar ao alforge o mísero conteúdo, quando de súbito deu por que uma ponta da túnica fazia um nó volumoso e percebeu que o nó era pesado e, sendo-o, ao pensá-lo subiu-lhe o sangue à cara, só podia conter dinheiro, esse mesmo que negara possuir, e que o dinheiro fora ali posto por Maria de Magdala, ganho portanto, não com o suor do rosto, como manda a dignidade, mas com gemidos falsos e suores suspeitos. A mãe e os irmãos olharam a denunciadora ponta da túnica, depois, como se tivessem combinado o movimento, olharam-no a ele, e Jesus, entre disfarçar e ocultar a prova da sua mentira e exibi-la sem poder dar uma explicação que a moralidade da família condescendesse em aceitar, tomou o partido mais difícil, desatou o nó e fez sair o tesouro, vinte moedas como nunca as tinham visto nesta casa, e disse, Não sabia que tinha este dinheiro. A reprovação silenciosa da família passou no ar como um sopro escaldante do deserto, que vergonha, um primogénito mentiroso. Jesus reflectia em seu coração e não encontrava nele qualquer irritação contra Maria de Magdala, só uma infinita gratidão pela sua generosidade, por essa delicadeza de querer dar-lhe um dinheiro que sabia que ele teria pejo em aceitar da mão dela directamente, pois uma coisa é ter dito, A tua mão esquerda está debaixo da minha cabeça, e a tua mão direita abraça-me, e outra coisas seria não pensar que outras mãos esquerdas e outras mãos direitas te abraçaram, sem quererem saber se alguma vez a tua cabeça desejou um simples amparo.
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Os livros que ninguém quis dar a ler
Pedaços de mim - Eugénia Tabosa