Ideia criada numa pequena conversa com os meus alunos, ao sabor de um amor entre 7 Luas e 7 Sóis, desaguada num desfile de amores impossíveis, paixões loucas, seduções inquietas, mergulhadas num oceano de uma língua sem fronteiras…
Segunda-feira, 14 de Maio de 2007
Rodrigo Guedes de Carvalho
Levantou-se de repente. Como se de um pesadelo. A cabeça pesada, os membros torpes, as articulações ferrugentas da insónia. E o dia que nunca mais irrompia pelos espaços regulares da persiana. Desenhos milimétricos na escultura rígida da janela.
Este não é o meu quarto e estou farto de hotéis. Uma mulher respira devagar por trás de si. Amo-a? Mexe-se ligeiramente, muda de posição, murmura palavras fugidias de sonhos desfeitos, volta a adormecer, a boca ligeiramente mais aberta, a mesma respiração aquática. O que faço aqui?
Água, no pescoço, na cara, as mãos em concha, duas três quatro vezes, lavar-me, começar a limpar-se por ali, como se restassem nas pálpebras e nos lábios pedaços apodrecidos da goma da resignação. Sentiu, enquanto os olhos fechados se lembravam das corridas de bicicleta entre a Apúlia e Ofir, e a boca reaprendia a pouco e pouco a arquitectura difícil dos sorrisos abertos da infância, a mulher que se remexia no seu sono inquieto, Falas tanto de noite, Dizes tanta coisa que não percebo, que me apetece logo inventar aí, nesse espaço a que definitivamente não pertenço, a cova escondida do entendimento que definitivamente não logramos alcançar, um raspar mais brusco dos lençóis, um bocejo enorme, claro, a faísca de um isqueiro, claro, a voz que já não pertence ao sonho, clara.
- Por que é que acordaste tão cedo?
Por que é que me deitei tão tarde, e contigo, uma vez mais contigo, um corpo à deriva, a jangada da tua sedução, há quanto tempo?
- Podes responder-me quando falo contigo?
Daqui a nada