Esta manhã, como eu pensasse na pessoa que terá sido mordida pela viúva, veio a própria viúva ter comigo, consultar-me se devia curá-la ou não. Achei-a na sala com o seu vestido preto do costume e enfeites brancos, fi-la sentar no canapé, sentei-me na cadeira ao lado e esperei que falasse.
- Conselheiro - disse ela entre graciosa e séria -, que acha que faça? Que case ou fique viúva?
- Nem uma coisa nem outra.
- Não zombe, conselheiro.
- Não zombo, minha senhora. Viúva não lhe convém, assim tão verde; casada, sim, mas com quem, a não ser comigo?
- Tinha justamente pensado no senhor.
Peguei-lhe nas mãos, e enfiámos os olhos um no outro, os meus a tal ponto que lhe reasgaram a testa, a nuca, o dorso do canapé, a parede e foram pousar no rosto do meu criado, única pessoa existente no quarto, onde eu estava na cama. Na rua apregoava a voz quase todas as manhãs: «Vai... vassouras!, vai espanadores!».
Compreendi que era sonho e achei-lhe graça.
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Pedaços de mim - Eugénia Tabosa