Mas eis que há algum tempo, quando eu percorria a Baixa por uma tarde de sábado, vi no passeio fronteiro, avançando para mim, uma estranha e bela rapariga que nunca vira e que no entanto eu conhecia desde não sabia quando. Vestia de cinzento, direita e coleante como um fortíssimo desejo calmo. Uma quente humidade inchava devagar nas suas curvas solenes e uma branda avidez dilatava-se enormemente no seu maravilhoso olhar. A cada passo que dava estremecia nela a presença harmoniosa da sua plenitude; e de uma vez que sorriu para alguém, de olhos líquidos e transversais, um suave aroma de perfeição e de dádiva desprendeu-se dela lentamente como duas mãos estendidas. Fiquei ali estarrecido com a súbita revelação de uma esperança que perdera. Porque eu conhecia aquela mulher revelada, mas donde? E desde quando?
Assim a tenho seguido vezes sem conto, receoso de lhe falar, quase receoso de a ver. É impossível que ela me tenha esperado como eu, porque eu sei bem que a amo desde sempre. Quantos destinos, nesta cidade grande, se cruzam desencontrados – quantos terão sido erradamente do seu!
Manhã Submersa
Professores
Familiares
Esc Sec Caneças
Percursos Curriculares Alternativos
Ex-Alunos
Cultura
Os livros que ninguém quis dar a ler
Pedaços de mim - Eugénia Tabosa