" Encarou-a como alguém que se não vê há anos, surpreendendo-se de achar esse rosto gasto, diferente, com a pele a roçar os ossos.
- Acabaram-se hoje as fornadas nesta casa, mulher. Apaga-me essas danadas brasas de queimar almas do Inferno. Vai tu chamar-me o urso do rapaz para uma conversa. Esta noite ainda! Acena-lhe com um presunto inteiro.
- Queres dizer que sempre não vais à serra?
- Tu és burra pra entenderes essas coisas, tenho de te puxar pelo cabresto; é bem feito que o visconde, um dia destes, venha correr-te a pontapés; irás para a rua, sem casa, sem coisa nenhuma; para a rua como uma cadela aluada. E então saberás o que fazemos nós, os Parras. É o caso. Chama o espantadiço do rapaz, que só não diferencia o chamamento de um pai.
- Atão só amanhã terei lenha para o forno?
- Lenha, lenha quanta quiseres, pra te rachar de meio a meio, se tornas a falar em fornadas!
Ela tinha muitas coisas a dizer, se fosse capaz. Sem a lenha, sem a poia, precisava de saber donde viria a comida para todos, enquanto António não tivesse o caminho aberto para o contrabando."
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Os livros que ninguém quis dar a ler
Pedaços de mim - Eugénia Tabosa